deslocamento norte – sul: encontro com o morro do quilombo

Mauricio Igor

Minha pesquisa atual envolve o corpo afro-amazônico em deslocamento. O que e

como afeta e é afetado por onde transita.

 

Quando estava em Belém, iniciei o processo de organização para me mudar para

Florianópolis, em decorrência de aprovação no mestrado em artes visuais na Uni-

versidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), meu intuito era morar próximo da

Universidade e pelo menor preço possível.

 

Depois de alguns dias na nova moradia, vi o ônibus que descia o morro e o nome

da rua numa placa, então percebi: eu morava no morro do quilombo. Fiquei curio-

so com o nome em um lugar tão branco.

 

Passei a ficar atento em algumas relações no meu cotidiano. No morro, vejo

maioria de pessoas pretas. Meus vizinhos, mães e pais levando filhos para escola,

casais, famílias…, mas quando desço para a universidade vejo maioria de pessoas

brancas. Na pós-graduação conto nos dedos a quantidade de alunos negros e no

quadro de professores não há nenhum.

 

A partir de histórias orais dos moradores e alguns arquivos históricos, inicio um

processo de realidade-ficção sobre o morro. Um dos moradores me disse que o

bairro, Itacorubi, foi criado em cima de mangues, por esta razão, devido ao difícil

acesso, ex-escravizados conseguiram fugir, o que seria o início do quilombo.

Nesta convocatória apresento dois processos: verbete para amanhã e o morro se

sobe em zigue zague.

 

Verbete para amanhã

desenho e folheto

 

Durante disciplina no mestrado em Artes Visuais na UDESC, ministrada pela professora Raquel Stolf, foi proposto aos discentes que fizessem uma proposição baseada em alguma outra já publicada na publicação- -audioteca Anecoica. Desse modo, faço uma produção que ressoa enquanto proposição futura, num processo preciso e em aberto, o qual indica um gesto de inflexão/dobra que aponta uma urgência, mas também acolhidas e fortalecimentos (aquilombar).

Como forma de espalhar esta ideia/desejo/aliança pela cidade, proponho folhetos que possam ser levados por visitantes em uma possível instalação.

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Folhetos no tamanho no tamanho 10,5 x 14,85 cm

O morro se sobe em zigue zague

anotações, desenhos, frames de vídeo, trechos de escritos

Neste processo, continuo a linha conceitual de pesquisa ao pensar o morro do quilombo e seu histórico permeado por mangues, fugas e resistências. Segundo alguns pesquisadores, durante fugas, alguns ex escravizados zigue zagueavam nas florestas para despistar os capitães-do-mato. Tal prática também aparece na conhecida canção escravos de jó, na qual um dos trechos apresenta que “guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá”.

 

Somado a isto, via conhecimento popular se afirma que se a subida de um morro for muito íngreme e a largura da via e o tipo de terreno permitirem pode-se optar por subir em zigue zague. Vai demorar mais para terminar a subida, porque a distância a percorrer vai aumentar, mas a inclinação relativa diminui, o que em subidas muito fortes pode ser vantajoso.

 

Assim, aliando formas de fugir a facilidades para subir o morro, performo a subida em zigue zague ao som de berimbau, evocando a capoeira, uma manifestação da arte e da cultura afrobrasileira, que em sua origem era utilizada como forma de defesa na fuga de

cativeiros por negros escravizados.

Título: deslocamento norte – sul:
encontro com o morro do quilombo
Artista: Mauricio Igor
Técnica: Folheto e fotografias
Dimensões: Verbete para amanhã: 10,5 x 14,85 cm | O morro se sobe em zigue zague: dimensões variáveis
Ano: 2022

Foto perfil 2021 - Mauricio Igor (1)

Mauricio Igor

Licenciado em Artes Visuais pela UFPA, mestrando em Processos Artísticos Contemporâneos pela UDESC. Investiga questões de identidades em temas como gênero, sexualidade, negritude e o cotidiano na região amazônica. Atualmente pesquisa poéticas sobre o corpo afro-amazônico em deslocamento.

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