“Cartografias virtuais” é baseada em relações de território, georreferenciamento e colonialidade. As três imagens produzidas se referem a um país – Neniesistão – inventado pela artista, que não existe e que, portanto, é impossível de ser descoberto, explorado e colonizado. Este tríptico parte da premissa que toda porção de terra, transformada em território, é resultado de relações de posse e poder; cria-se uma linha imaginária em um determinado espaço da Terra, e a partir dela são realizadas diplomacias, burocracias e, mais do que tudo, usos de recursos presentes na delimitação desse território específico. “Território” nada mais significa que uma área delimitada que está sob a posse de algo ou alguém. Por isso, o que conhecemos por “território” é uma invenção humana, e assim são criadas tensões geopolíticas entre nações, que podem se submeter até a conflitos armados para conquistar recursos e/ou outros territórios.
A criação de um país que não existe se torna, aqui, uma maneira de subverter a linguagem da cartografia e os conceitos de demarcação e posse. Etimologicamente, “Neniesistão” surge dos termos Nenies – que significa “de ninguém” em esperanto – e “Istão” – sufixo utilizado por diversos países da Ásia, que significa “lugar de”, “território de” etc. -, que se traduz como “Território de Ninguém”. Criar uma demarcação de terra inexistente é, também, ressignificar nosso entendimento pelas linhas imaginárias; neste caso, é entendido que, como todo território é demarcado por uma linha imaginária, e que posteriormente essa linha é georreferenciada através de softwares de mapeamento – como o Google Earth e aplicativos de GPS – todos nós temos a potência de criar uma linha imaginária, mesmo que essa linha criada de fato não exista, até porque, materialmente falando, não existe nenhuma dessas linhas na natureza; a propriedade é uma invenção humana.
Em “Cartografias virtuais”, Neniesistão está localizado nas coordenadas 0°00’00.0″N 0°00’00.0″E, ou seja, no “ponto zero” do Planeta Terra. A região é tão instável que o GPS nos redireciona para a porção de terra mais próxima. A bandeira do país é uma homenagem ao único elemento realmente presente no “ponto zero” da Terra: uma boia. O triângulo da bandeira faz referência ao Triângulo das Bermudas, uma área que existe, porém demarcada por um triângulo imaginário. A demarcação da linha imaginária de Neniesistão é resultado de um estudo de diversos “formatos”
de ilhas diferentes ao redor do globo terrestre. As cidades inexistentes mais relevantes de Neniesistão foram batizadas por termos que significam “nenhum” ou “nada” em esperanto e em latim, uma língua artificial e uma língua morta.
Título: Cartografias virtuais
Artista: Isabela Jaha
Técnica: Vetorização e intervenção em imagem digital
Dimensões: 2 imagens de 1392×963 px e 1 imagem de 1392×984 px
Ano: 2022
Isabela Jaha é artista visual paulistana. Graduanda em Artes Visuais pela Unicamp, participou de exposições coletivas, como o Salão de Vinhedo e Território da Arte de Araraquara. Produz trabalhos em diversas linguagens, referentes a questões de gênero, artes manuais e memória coletiva.