Algumas semanas antes de gravar essa performance, sonhei com o meu pai cobrindo a janela do meu quarto com um manto roxo, fino, com vários buraquinhos. Nós, indígenas, nos guiamos pelos sonhos, pois é por meio deles que continuamos a conversar com nossos ancestrais.
A performance Álbum de Estrelas desenvolve o primeiro diálogo realizado entre nós, após o seu encantamento.
Título: Álbum de estrelas
Artista: Débora Arruda
Técnica: videoperformance
Ano: 2022
“Os sonhos tendem a ser muito mais radicais que a ‘realidade’. Por isso estão mais perto da arte que da vida”¹
A performance é uma obsessão. Ela rastreia, sente, descreve, mergulha, silencia. Depois começa tudo de novo. Barulho. Geralmente esse processo nos invade, passeando por todas as células e átomos do nosso corpo. Escorre com os fios. Perdemos os cabelos. Depois de ter perdido muitos fios no processo de luto, resolvi mapear as faltas e os espaços vazios deixados. Percebi que tudo ao meu redor tinha se transformado em lacunas. Apesar de ter continuado, me ausento. Não sei até que ponto estou presente no mundo.
Álbum de estrelas é um diálogo, um pedido de socorro e também um processo de cura. Contraditório e confuso, ele brinca com as fronteiras de forma lenta, assim como a sutil mudança de temperatura que pode ser visualizada no vídeo. O texto e o álbum trazem duas comunicações distintas: a mulher, filha mais velha, que acompanha o pai no hospital durante poucos meses, ao lidar com um câncer em estado terminal e muitas palavras engasgadas, e a criança, que não sabia que era a mais velha, apenas filha, sentindo falta do seu protetor e companheiro de álbum de figurinhas.
1Em defesa da arte da performance, Guillermo Gómez-Peña, 2011.
Em CADERNO DE ARTISTA compartilho o meu processo de criação, as minhas anotações e sonhos registrados em um bloco de notas do meu celular e em um grupo de whatsapp, do qual sou a única participante. As intervenções realizadas nas imagens, por meio dos gifs,
consistem em um exercício de reflexão sobre o meu próprio trabalho.
Título: Caderno de Artista
Artista: Débora Arruda
Técnica: gif arte
Ano: 2022
Poeta e artista visual indígena brasileira, a sua pesquisa como artista incita provocações para criar mundos além da lente colonial, por meio de caminhos permeados por experiências intuitivas ligadas à autoficção e ao território, colocando em questão os limites entre natureza e cidade.